PARA CNI É PRECISO ESTANCAR O PROCESSO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Gühring
O Custo Brasil consome 1,5 trilhão de reais anualmente das empresas
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em meados da década de 1980, o setor industrial chegou a ser responsável públicas que incentivaram investimentos do governo e da iniciativa privada em setores estratégicos, como energia, transportes, comunicação, siderurgia, mineração e petróleo, entre outros. Tais políticas foram decisivas para o crescimento e a consolidação do parque industrial brasileiro que, atualmente, está entre os mais modernos e diversificados do mundo.
Desde a década de 1990, entretanto, o Brasil tem sofrido um preocupante processo de desindustrialização, que se agravou severamente nos últimos dez anos. A indústria de transformação, que em 1985 representava 36% do PIB, terminou o ano de 2021 com apenas 11% de participação na produção nacional. Mais grave ainda foi a queda da participação da indústria brasileira na produção mundial. Em 1995, nossa indústria manufatureira representava 2,77% da produção mundial, percentual que hoje é de apenas 1,28% – ou seja, praticamente a metade –, como mostra recente estudo elaborado pela CNI.
“A desindustrialização é danosa para toda a economia brasileira, sobretudo devido à capacidade que o setor tem de multiplicar riquezas”, observa o empresário Robson Braga de Andrade, presidente da CNI. Segundo a entidade, cada R$ 1,00 produzido na indústria de transformação, são gerados R$ 2,43 na economia como um todo. A título de comparação, na agricultura são gerados R$ 1,75 e nos setores de comércio e serviços, R$ 1,49. O setor industrial tem a capacidade de puxar o crescimento dos demais setores por possuir cadeias produtivas longas e ser o grande indutor de inovações da economia.
Andrade ressalta que as causas da perda de competitividade da indústria nacional são muitas. Destacam-se, entre elas, os elevados custos sistêmicos, conhecidos como Custo Brasil, além da ausência de uma estratégia de desenvolvimento industrial. O Custo Brasil – que, como divulgado pelo Ministério da Economia, consome 1,5 trilhão de reais anualmente das empresas –, é resultado de diversos problemas, como o sistema tributário complexo, oneroso e cumulativo; a infraestrutura deficiente; o financiamento escasso e caro; a baixa qualidade da educação; o ambiente macroeconômico instável; e a insegurança jurídica.
Para o executivo da CNI estancar o processo de desindustrialização e recuperar a competitividade do setor, é imperativo não apenas superar os gargalos antigos relacionados ao Custo Brasil, mas também que o país invista na adoção de uma política industrial moderna, alinhada com as melhores práticas internacionais. Novas estratégias de desenvolvimento industrial têm sido o grande foco de países como Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, China, Alemanha e demais países da União Europeia.
Um dos principais objetivos de uma política industrial moderna é o desenvolvimento científico e tecnológico, que coloca a inovação como principal fonte de ganhos de produtividade e de competitividade. Nos EUA, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) correspondiam, em 2018, a 2,83% do PIB. No mesmo ano, a China investiu 2,14% do PIB e a Coreia do Sul chegou a 4,53%. Na contramão do mundo, o Brasil vem reduzindo seu investimento em P&D e, hoje, investe apenas 1,2% do PIB.
Para Andrade, o vitorioso nas eleições deste ano, qualquer que seja ele, deverá ter como prioridades de governo reduzir o Custo Brasil e apoiar firmemente a indústria brasileira no desenvolvimento de técnicas de manufatura avançada e na incorporação de tecnologias da Indústria 4.0, que permitem ganhos de produtividade significativos para as empresas. É urgente, também, que o país aproveite as janelas de oportunidades abertas na área de meio ambiente, em função das mudanças climáticas, investindo em tecnologias que permitam a transição para uma economia de baixo carbono, com políticas destinadas à transição energética e à economia circular. (Fonte: CNI)